Presente da França?
Ao contrário do que muitos pensam, o Cristo não foi um presente do governo francês para o Brasil.
Em 1922, um abaixo-assinado com mais de 20 mil assinaturas, organizado pela escritora Laurita Lacerda e com a ativa participação de mulheres, solicitando que a estátua fosse construída no Morro do Corcovado, foi entregue ao presidente Epitácio Pessoa, que concedeu a autorização.
No ano seguinte, teve início uma grande campanha de arrecadação de recursos para a construção do monumento, sob a coordenação de Dom Sebastião Leme, cardeal do Rio de Janeiro.
Com o projeto do engenheiro brasileiro Heitor da Silva Costa selecionado para a obra, o Cristo Redentor foi desenhado pelo artista plástico Carlos Oswald, projetado pelo escultor Paul Landowski, e a cabeça foi executada por Gheorghe Leonida, também escultor, enquanto os cálculos estruturais da obra foram feitos por Albert Caquot.
A obra de instalação do Cristo Redentor começou em 1926. De execução considerada complicadíssima, durou cinco anos. As peças foram transportadas de trem, pois ainda não havia estrada de rodagem até o Corcovado, só inaugurada em 1936.
Os moldes de gesso foram recortados e remontados e concretados no sítio do arquiteto Heitor Levy, em São Gonçalo. As únicas partes construídas na França foram os moldes da cabeça e das mãos, porém em gesso, em tamanho natural, que foram recortadas, trazidas ao Brasil e aqui reconstruídas em concreto armado.
Totalmente construído a partir de doações populares, o Cristo Redentor é um presente dos brasileiros para a humanidade!
Cristo da bola
Você sabia que o Cristo Redentor quase foi bem diferente? Quando o engenheiro Heitor da Silva Costa venceu o concurso nacional em 1921, ele imaginou um Jesus segurando o globo terrestre em uma mão e uma cruz na outra, inspirado no Cristo dos Andes. Mas os cariocas, apaixonados por futebol, logo apelidaram a estátua de ‘Cristo da Bola’, transformando o globo em uma bola de futebol na imaginação popular.
Com a ideia gerando piadas e críticas, especialmente da Escola Nacional de Belas Artes, o cardeal Dom Sebastião Leme, grande líder da Igreja no Brasil, interveio. Ele pediu que a estátua tivesse ‘alto conteúdo simbólico’ e que pudesse ser vista de longe como uma cruz.
A inspiração para o Cristo que conhecemos hoje veio de um detalhe inusitado: Heitor, observando uma antena de telecomunicação com braços transversais em Botafogo, teve a ideia de criar um Jesus com os braços abertos, formando uma cruz gigante vista de longe. E foi assim que nasceu o ícone do Rio de Janeiro que conquistou o mundo!
Cristo e as mãos femininas
O cartão postal mais famoso do Rio de Janeiro tem, literalmente, mãos femininas. Desde a mobilização pela autorização para a colocação da estátua no alto do Corcovado até a campanha para obtenção de recursos para a construção do monumento, o Cristo Redentor é um exemplo de empoderamento e protagonismo feminino.
Quem deu forma a cada mosaico da estátua do Cristo, foram mulheres que se revezavam na Matriz de Nossa Senhora da Glória, no Largo do Machado. Elas trabalhavam com pastilhas triangulares finíssimas, de 3 milímetros de espessura e 4 cm de largura.
Foram mãos femininas que ajudaram a colar, uma a uma, as pastilhas triangulares que cobrem toda a imagem, formadas por esteatita, ou pedra-sabão — um material altamente resistente, que não muda de cor, não retém calor, não se dilata nem se contrai, resiste a ácidos e não absorve a água da chuva.
Reza a lenda que Paul Landowski teria usado as mãos da poetisa, atriz e declamadora Margarida Lopes de Almeida como modelos para as mãos da estátua. Ela sempre confirmou essa história, mas pouco antes de morrer, em 1979, a desmentiu, deixando uma dúvida quanto à sua veracidade. Esse relato é contestado, e muitos atribuem tal confissão à caquexia.